segunda-feira, 9 de março de 2009

Lego



Cansei de ser 1!
Quero ser 2.
Um amigo me disse que essa história de ser 2 é bobagem. Que ele já nasceu completo. Inteiro!
Morri de inveja...
Mas não sei ser 1.
Olho no espelho e falta metade. Sento na mesa e falta!
Falta outro prato, outra cadeira ocupada, outro copo cheio...
Sobra salada, suco, macarrão...
Uma das minhas mãos não sabe o que fazer na rua.
Uma é bem resolvida, segura a bolsa.
A outra se esconde no bolso do jeans.
Convivo bem comigo mesma. Não brigo, não dou peti.
Fico numa falsa paz. Afinal é muito fácil viver só! Difícil é viver com!
Ser inteiro todo mundo é. O problema é não gostar de ser inteiro, é gostar de ser misturado.
Me sinto como uma peça de lego na caixa, esperando que alguma feliz criança me tire da minha inteireza.
Que me faça dar as mãos, os pés, o umbigo a outras peças...
Que faça combinações diferentes de mim mesma.
Que me faça ter certeza de que sou eu mesma, completa.
Mas que posso ser carro, casa , flor ou avião quando me misturo.
Só tenho real noção de mim no meio da brincadeira.
Trancada na minha caixa, solta entre as outras peças, descanso em paz.
Porém não posso chamar essa paz de plenitude, de felicidade.
Isso só conheço com o outro.
Com outro prato na mesa, no sofá apertado, na disputa pela pia do banheiro de manhã...