terça-feira, 3 de novembro de 2009



Ansiedade:
O resultado entre o fazer e o não fazer.
Agravamento:
Procrastinação.
Antídoto:
Ação.

"Pensar é estar doente dos olhos", diz sabiamente Fernando Pessoa.
Pensar, pensar e pensar! Será que sabemos fazer outra coisa?
Será que isso tem a ver com a pandemia de ansiedade que assola o trânsito e os consultórios psiquiátricos?
E se pensássemos menos?
Víssemos mais o céu azul, a cidade, as pessoas...?
Cheirássemos o ar, a nossa pele, o nosso próximo...?
Tocássemos mais em nós mesmos, acariciasse o chão, ou até rolásssemos na terra como fazem as crianças e os cachorros?
Lambesse o suor que escorre pelo rosto, arrumar os armários...
Correr, escrever, trabalhar, agir!
Não importa o que façamos.
A ação é como um círculo de fogo mágico a nossa volta, fazendo com que o demônio da ansiedade fique longe. Bem longe!

domingo, 11 de outubro de 2009

Elas sabem



Às vezes gosto de brincar que sou árvore
só para ser tocada pelo vento
Plantar meus pés no chão
sentir crescer os musgos, as pequenas plantas e flores nos meus tornozelos
Estender meus braços aos céus
e poder ouvir a música das estrelas
Eu acho que as árvores podem tudo
elas conhecem o segredo de como crescer na escuridão da noite
Eu não!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Na metamorfose"...


Amo esse nome do blog de uma amiga muito amada!
Ele diz tudo: Não nascemos prontos! Nunca estamos prontos.
Mas infelizmente pensamos que sim!

Não nascemos filhos ou filhas. Pais ou mães. Amigos ou esposas.
Leva-se muito tempo de observação, meditação, tolerância, amor para que formemos esses papéis em nós.
Não que o conhecimento já não esteja presente, porque sempre está.Todas as respostas, questões, aprendizados, moram em nós. Como se houvesse um programa de computador já instalado, porém que não é acionado, a menos que o ativemos. Ou seja, depende do nosso querer.
 O problemas também, muitas vezes  não é nem querer, é reparar que existe essa necessidade. Prestar atenção no outro. Olhar com cuidado suas necessidades, dores, aflições...
  Ficamos tão atentos às infinitas vozes externas sobre nós mesmos, nossos pais, amigos, irmãos, que nem sequer olhamos para quem eles são, ou para quem, de fato, somos.
  Só quando calamos o exterior é que o interior pode se manifestar plenamente. Ele é muito educado e não fala enquanto há outros falando.
   E para calar não precisamos nos isolar do mundo. Tornar-se um eremita ou viver afastado daqueles que amamos ou do mundo real.
   Todas as religiões oferecem as suas práticas de comunhão com o divino, se ficar em silêncio e ouvir, todas as respostas virão.Independente de você acreditar que venham de um deus ou de você mesmo. Elas virão!
  Levei minha vida inteira sabendo que minha mãe não sabia ser mãe. Justificava esse fato a sua pouca idade, 17 anos quando me deu à luz. Não a culpava diretamente, mas de alguma forma achava que essa deveria ser uma qualidade intrínseca a toda mulher. É estranho como não pensamos isso dos homens ou dos filhos.
 Só as mães têm que nascer sabendo serem mães!!!
Hoje, aos 37 anos, descubro que só agora estou aprendendo a ser filha.
Que ser filha, ou filho, não é dizer ‘eu te amo’, visitar aos domingos para almoçar ou nas férias. Ligar toda semana e nos dias dos pais.
   Ser filho é acompanhar as dores e angústias. Saber das dificuldades financeiras, profissionais, de saúde, sentimentais até! Pois pai e mãe também têm problemas e possuem sexo, sabia?
 Infinitamente mais cômodo pensar que não.
 Mas não basta saber, é preciso ajudar, colaborar no que for necessário. É se desdobrar para que o dinheiro dê para si mesmo e para os pais se isso for preciso, é tolerar os limites, as fraquezas morais, os fracassos pessoais, espirituais sem julgamentos ou condenação. É ensinar em suas dificuldades, doar tempo, paciência, resolver até questões que para nós nos parecem tão simples, mas que na cabecinha deles nem sempre é. Não é apontar o dedo e dizer: ”Ele plantou, ele que colha”. Realmente julgar não nos cabe, isso não nos é permitido nesta vida. Amar sim.
   Quantas vezes nossos pais nos acolheram em nossas fraquezas e deslizes?
 Mas não devemos acolhê-los apenas como uma forma de retribuição ou de pagamento. E sim como uma ato de amor, afeto incondicional .
  Pegamos o pai ou mãe, o irmão, a esposa ou o amigo, tal qual um filho doente ou drogado (que é a mesma coisa) e o acudimos. Não importam os papéis, às vezes eles se invertem mesmo. Mas o amor é o mesmo.
  Repenso e repasso todos os meus papéis. Sei que o que mostro ao mundo é infinitamente medíocre perto da grandeza que trago na alma. É como dizia Niestsche : "A coisa mais difícil neste mundo é nos tornarmos quem realmente somos”. É tirar de dentro de nós os verdadeiros filhos e filhas, pais e mães, irmãos e amigos.
   Não morrermos na intenção de sê-lo.
   Mas trabalharmos neste processo sem fim de tornar-se.
   Nada na vida é pronto. Os substantivos não existem. Uma árvore não existe, ela é um processo como nós. 
Osho diz: "só os verbos são reais, não somos nada, estamos nos tornando sempre".
Uma única certeza: Na metamorfose, Dani, esse é o nosso estado permanente.
  


sábado, 15 de agosto de 2009

Be happy








Eu queria poder dizer das dores.
Das minhas e das alheias.
Talvez 'dizer' não fosse o termo correto,
Queria poder 'estancar' todas as dores!
Mas aí ficariam represadas..
Não, não seria bom!
Um dia poderiam estourar...
O melhor seria incinerar, transformar em adubo.
Fertilizante para uma vida plena.
Maldita tradição essa, tão enraizada em nós, na qual sentimos o sádico prazer em nos flagelar continuamente! Como se para nós nunca chegasse a redenção! A absolvição!
Queria dizer que somos todos tortos, 'gauches' a caminhar pelas sombras da vida. A simples comprensão disso nos livra de apontar o dedo a quem quer que seja!
E que a dor não é 'privilégio' de ninguém, ela está no mundo e disponível a todos, assim como o sol: não há privilegiados, ele vem sobre todos nós
Mas o que fazer quando ela sufoca, aprisiona, paralisa?Escrever, escrever, escrever...? Às vezes seria bom enfiar as mãos na terra, plantar, sentir a humidade gostosa e acolhedora dessa amiga tão querida? Fazer um pão, 'carinhar' a massa? Jogar bola? Tocar um instrumento?
"O que te faz feliz?", é o slogan do Pão de Açúcar, deveria ser o nosso. A nossa pergunta diária.
O que me faz feliz? O que te faz feliz?
Muitas vezes a tristeza é tamanha que é até difícil identificar. É melhor indo aos poucos...sentar ao lado de um amigo e colocar o papo em dia, assistir a um filme , alisar um animalzinho... e a vida vai voltando...
Como os homens, ela sempre volta, só que ao contrário deles, ela volta melhor: amadurecida.
O que sei é que não podemos nos desesperar. Nunca! Pois o mundo dá voltas e umas vezes estamos de cabeças para baixo, literalmente, e em outras estamos de pé!
(Quisera eu ter o poder de pensar sobre isso nos meus momentos de abandono de mim mesma)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Serenar



Cair lentamente.
Cair o orgulho, as máscaras, as desilusões, as tristezas...aquilo que não nos serve mais.
Gotejar lentamente sobre nossos quereres e, principalmente, sobre os nossos não quereres. Silenciosamente, tal qual o orvalho da noite.
Sereno tem a ver com o céu!
Serenar é o derramar lento do leite da lua. Sem alarde ou alvoroço...
Mas que fertiliza os campos e amolece os terrões endurecidos, como diz o Salmista. (Salmos 65)
É livrarmos da energia avassaladora da ira. É saber calar por amor, aceitação e compreensão dos desígnios divinos; compreensão e aceitação de nós mesmos, dos nossos erros, das nossas escolhas e alheias.
Mas isso, de modo algum quer dizer passividade ou falta de ação. Pelo contrário.
Serenar é agir centrado!
É falarmos por meio de mãos que afagam e olhares que acolhem, é caminhar no escuro como se dia fosse, guiados por uma força muito maior que nós, mas que está em nós.
Sereno é quem já foi tempestade um dia. Destruiu com as próprias mãos o que plantou e compreende que a cólera produz grandes feitos, sem dúvida, mas que o agir sereno, produz frutos, se não na mesma proporção, até maiores! E de maior qualidade.
São frutos colhidos no tempo certo, doces, não amadurecidos à força.
O sereno trabalha secretamente na solidão da noite. Lava os telhados diariamente para que as cinzas negras não se acumulem. Lava as folhagens da poluição, deixa que seus poros transpirem, vivam. Livra a terra da secura extrema e enche a noite com um frescor todo especial, capaz de nos fazer esquecer o sufocante calor diurno.
Por meio desse ar renovado deslizam os aromas das flores tímidas e sensíveis que só se mostram na escuridão. Deslizam abraços e suspiros de amor. Dormem-se sonos revitalizantes e tranquilos...
Sereno é o ser lunar, meigo e compassivo. É o lado mãe da vida que acalenta e nutre sem anunciar-se, mas que nos dá suporte para que aguentemos o calor das lutas diárias.
O sereno faz com que a boa semente, a melhor semente, aquela que escolhemos calmamente para nós, brote calmamente no útero da terra. Que de outro modo seria carregada pela força tempestuosa das grandes chuvas, por melhor que ela fosse. Ou melhor que fosse nossa intenção.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Compatilhar transformador



Há tempos que tento conhecer um pouco sobre a Kabbalah. Não porque é moda. Porque sou mística mesmo e todos os assuntos relacionados à espiritualidade me interessam.
Já ouvi de tudo! É incrível como as pessoas gostam de cuidar da vida alheia, do que gostamos, fazemos ou deixamos de fazer. Como se não fôssemos livres para decidir, escolher o caminho, ou caminhos, que desejamos seguir.
Triste isso!
Na última semana me perguntaram: "De que serve estudar isso?" ( a Kabbalah).
Bem, serve tanto quanto qualquer prática que nos conecte conosco mesmo, com alguma Força Superior, ou no mínimo, que nos faça viver melhor com os nossos semelhantes, só aí já temos uma grande utilidade. Pelo menos eu penso, mas cada qual pense como quiser.
Mas, como disse Jesus: "Ama ao teu próximo como a ti mesmo! Neste ensinamento encerra-se todos os ensinamentos de todos os profetas" (livre tradução).
Meu 'dever de casa' esta semana para o curso de Kabbalah era desenvolver a arte de Compartilhar. De tudo o que se diz sobre essa filosofia mística judaica, esse é o ponto principal, a chave!
Dizem algumas correntes judaicas que enquanto as pessoas não aprenderem a compartilhar de fato, todos os templos que forem construídos em Israel serão destruídos. Pois as pessoas não sabem o real valor desse ato, compartilhando apenas das sobras. Eles acreditam que o conhecido Muro Das Lamentações só está de pé porque foi o único pedaço do templo construído com doações sinceras.
Assim como na memória de nossos filhos só ficarão gravados aqueles momentos em que compartilhamos com eles o nosso melhor . Aquelas horas de total e generosa entrega . Entrega do que temos de melhor naquele momento. Quer seja o nosso tempo, nosso trabalho, dinheiro, alegria, amizade ou até mesmo algumas lágrimas, entre tantas outras coisas.
Do mesmo modo, é o que sobrará dos casamentos ou relacionamentos: mãos dadas, sentidas em cada movimento: de segurança, de medo, de confiança...; olhos que se enxergam verdadeiramente, almas que se leem em cada gesto. Que compartilham de um mesmo ideal: fazer mais pelo outro, ainda que isso represente sacrifício: ouvir quando o outro precisa falar e se está morto de cansaço, passar noites acordadas se o outro necessitar de nossos cuidados, não comprar aquele carro maravilhoso se é mais importante para o outro fazer um curso que ele necessite muito. Os exemplos são inúmeros. Cada um sabe o que pode abrir mão para compartilhar com o outro a alegria de estarem juntos.
Compartilhar é sair da zona de conforto.
E como é difícil compreender isso, quanto mais fazer!
Não é estar próximo fisicamente. Nem perguntar como o outro está pelo msn, telefone. Enquanto pensamos nas milhares de outras coisas que se têm que fazer ou poderia estar fazendo.
Por isso há tanta superficialidade nos relacionamentos.
Quem compartilha direciona sua energia a um só foco. Claro que podemos ter vários focos: o emprego, ou empregos, cada um dos filhos, a mãe, o cachorro, uma instituição que assistimos...
O importante é estar totalmente presente e centrado em cada situação.
É o caso de estar casado e ser consumido pela solidão.
De ficarmos horas no msn e irmos dormir vazios e carentes.
Ai o zazén! Lembrei-me do zazén!
Atenção Plena!!
Apenas sentar-se!
Apenas sentir!
Apenas ouvir!
Compartilhar é dividir-se plenamente com o outro. É não pulverizar-se. É sentir-se e sentir a necessidade alheia. Mas isso só é possível se sairmos de nós mesmos.
A solidão é o que nos leva a inúmeros relacionamentos vazios, a consumir mais que o necessário. Em espanhol a definição é perfeitamente clara: "con su mismo", consigo mesmo. Com mais ninguém. Sozinho!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descanso



Não importa se faz um dia, um mês ou uma vida.
Importa a impressão da sua presença:
chuva calma serenando meus tormentos.
Arrancando levemente o passado e o futuro


Quem precisa de passado ou de um futuro
quando se tem a eternidade do presente?
Dizem que Eros não habita onde não há Beleza!
E a Beleza mora em ti.
Vulcão sereno
Praia de águas profundas...


Meu coração encontrou paz na sua confusão.


Sei que em ti habita chuvas de meteoros e tempestades no vácuo
Que não é tranquilo como aparenta!
Mas admiro sua solidão,
seu caminhar só,
fingindo um equilíbrio que não existe,
nunca existirá!



segunda-feira, 9 de março de 2009

Lego



Cansei de ser 1!
Quero ser 2.
Um amigo me disse que essa história de ser 2 é bobagem. Que ele já nasceu completo. Inteiro!
Morri de inveja...
Mas não sei ser 1.
Olho no espelho e falta metade. Sento na mesa e falta!
Falta outro prato, outra cadeira ocupada, outro copo cheio...
Sobra salada, suco, macarrão...
Uma das minhas mãos não sabe o que fazer na rua.
Uma é bem resolvida, segura a bolsa.
A outra se esconde no bolso do jeans.
Convivo bem comigo mesma. Não brigo, não dou peti.
Fico numa falsa paz. Afinal é muito fácil viver só! Difícil é viver com!
Ser inteiro todo mundo é. O problema é não gostar de ser inteiro, é gostar de ser misturado.
Me sinto como uma peça de lego na caixa, esperando que alguma feliz criança me tire da minha inteireza.
Que me faça dar as mãos, os pés, o umbigo a outras peças...
Que faça combinações diferentes de mim mesma.
Que me faça ter certeza de que sou eu mesma, completa.
Mas que posso ser carro, casa , flor ou avião quando me misturo.
Só tenho real noção de mim no meio da brincadeira.
Trancada na minha caixa, solta entre as outras peças, descanso em paz.
Porém não posso chamar essa paz de plenitude, de felicidade.
Isso só conheço com o outro.
Com outro prato na mesa, no sofá apertado, na disputa pela pia do banheiro de manhã...


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Palimpsestos


Às vezes sou ingénua...Quase sempre, na verdade!
É o que se pode esperar de uma pessoa que acredita em milagres.
Que vê anjos em tudo e, o pior: em todos...
Às vezes, tanta ingenuidade, me mete em encrencas. Me faz doar mais do que devia, ou poderia. Doar meu tempo, meu coração, minha energia, meu sangue, minha vida!
Confesso que não sei ser pela metade.
Me pareço muito com uma gata que tínhamos, a Marie. Ela se envolvia 100% em tudo. Desde os carinhos às maiores confusões.
Ela viveu muito. E se isso não for milagre nada mais será! Pois perdi a conta do número de vezes em que ela apareceu em casa toda estropiada.
Pele e osso seria elogio. Era só osso!
A carne, os pelos... só Deus sabe em que cerca, garras ou dentes teriam ficado.
Testemunhei sua cura por incontáveis vezes. Limpava seus ferimentos, fazia emplastos, lhe dava leite morno e carinho. Acompanhava com assombro, a incrível capacidade da natureza em se autorrestaurar.
A carne se formando, cada dia mais densa, sob a camada do novo e sedoso pelo novo.
Os ligamentos se reconstituindo, até ela conseguir andar vagarosamente e, num instante seguinte, já estar pronta para pulos e saltos formidáveis.
É verdade que nunca consegui impedir que algumas cicatrizes ficassem.
Não compreendia que eram as marcas das batalhas, e que, no futuro, teria as minhas próprias. Medalhas de honra ao mérito, condecorações! Ela tinha várias.
Uma verdadeira veterana de guerra!
Porém, me espantava com que rapidez tornava-se macia de novo, agradável ao toque.
E era tão gostosa, tal qual o gatinho-bebê, que um dia trouxe para casa na mochila da Universidade.
Sempre a terei como exemplo, de que nada serve tentar nos preservar das batalhas. Melhor entrar com tudo, mergulhar de cabeça. Sem medo de perder o que quer que seja. Inclusive a cabeça!
Como em um palimpsesto, ou na restauração de um móvel, o artista vai trabalhando a peça. Às vezes se faz necessário o uso de uma espátula com um martelo para retirar a camada mais grossa de massa, depois lixa, passa um fundo nivelador, lixa de novo...
Processo lento. Várias fases.
Ser humano também é assim. Mas o resultado compensa.
Prefiro o restaurado ao novo.
E que palavra complexa e bela, Restaurar (Dic. Houais): "obter novamente a posse ou o domínio de alguma coisa perdida". É engraçado observar que em meio a tanta pressão para que se adquiram novos produtos, também se fale tanto em restaurar. Restaurar a dignidade, a autoestima, o valor do ser humano...
Ela também aparece como sinônimo de "Recuperar", a saúde, a alegria, as posses, o esplendor...
É quase um voltar ao estado primitivo, original. Mas vai muito além disso.
Um mural de palimpsesto jamais será um tablado de madeira crua e sem vida, ou um simples pergaminho em branco. Ali estão as marcas de artistas, viajantes, curiosos, crianças arteiras...todos que trazem em si o desejo de se autoafirmarem no mundo.
Aí, vem alguém e tenta jogar uma tinta por cima e fazer a seu modo, depois outro, e mais outro e no final, temos um Mundo, com todas as suas cores, personalidades, individualidades, num único ser, ou objeto.
Como um móvel restaurado, uma casa, ou o próprio ser-humano...ele nunca será totalmente livre das energias que o imantaram.
Melhor assim!
E ganhará o toque de um outro alguém, que não sabe bem por que se encantou com tal objeto. E de tanto amá-lo e carinhá-lo no seu processo de reforma, lhe trará um novo frescor. Sem que para isso, ele deixe suas histórias, suas marcas ...suas cicatrizes.
E quem poderá dizer que não é novo? Um novo velho! Um novo cheio de histórias pra contar. Ou melhor, para se descobrir.
Há quem não goste de nada que já foi 'usado'. Que já pertenceu a outra pessoa.
Esquecem-se de que todos nós já somos de segunda mão, terceira, quarta... Não há nada novo sob o sol. Trazemos vestígios e marcas de relacionamentos antigos, dos pais, dos avós, das cidades e casas onde vivemos...
E, esquecemos que, felizmente, também estamos sendo restaurados o tempo todo.
(É que às vezes o Marceneiro exagera um pouquinho e nos deixa só nos ossos. Lixa tanto, que sobra bem pouco pra contar história...ou sobra muito? )
Não sei! Sei que dos ossos, a Marie sempre se refazia. Macia, faceira e a cada nova batalha mais charmosa.
Quem a conheceu sabe que não exagero. E sabe da falta que ela faz!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pedras







Amo as pedras.
Suas texturas....
Tecidos tão antigos.
Tramas tão fechadas,
confeccionadas por milhares de mãos: verões, invernos, ventos, chuvas, granizos, luares...
Algumas são rústicas, lascadas, verdadeiras armas.
outras, porém, macias, lisas, redondas...que se acomodam perfeitamente nas palmas das mãos, sobre os olhos, entre os seios no chakra do coração!


Pedras verdes e rosas abrem o canal
para o amor desimpedido, incondicional.
Quebranta a dureza da alma.
O antídoto: pedra para curar um coração de pedra!


Pedras quentes sob ou sobre as costas,
terapia tão antiga quanto a humanidade que,
inconscientemente, praticava todos os dias no final da tarde
para despedir-me do sol e dar boas vindas à lua.
Esparramada sobre a imensa pedra cujo nome
revela seu formato: Pedra da Cebola.



Enquanto a Gabi cantarolava, correndo:
"Pedra da cebola, ahh que parque bom!...",
uma canção só nossa como tantas outras.



Não sei se pela sua voz de serenidade
ou pelo acolhimento das velhas pedras,
quentes como colo de avó,
expostas à quentura da vida/do dia.
Acredito que ambos.
Saía de lá refeita...
com menos pedras pelo caminho...

Há quem não goste das pedras.
Há quem delas reclame e se desvie.
Mas há quem faz delas sua cura,
seu caminho favorito.
Este é o meu caso.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Insônia

O barulho do vento na vidraça incomoda...
E o travesseiro que parece nunca encontrar a posição correta...
Cobertores que escorregam de um lado pro outro.
A cabeça pesa ante a rigidez da coluna...
e podemos ouvir o ranger dos nossos próprios maxilares...
Mesmo assim ficamos. Resistimos.
Por que não levantar e dar um basta na situação?
É que ela é cômoda de certa forma.
A madrugada é fria. O vento que percorre a casa, longe da esfera da cama, carregado de assombrações.
O pijama, curto.
O silêncio e o escuro terríveis, para nossos ouvidos e olhos acostumados a tantos estímulos.
É preferível o inferno de rolar de um lado pro outro da cama, de não relaxar, não sentir prazer no bom e velho descanso, que o suposto inferno do vazio longe do conhecido ninho.
Esquecemos que somos chama. Um dia nos conhecemos, mas nos perdemos de vista.
Contudo, podemos chamar-nos de volta. Podemos aconchegar os nossos ossos, acobertar de liberdade as nossas costas...
Aquecer a alma, aquecer a casa, pois a casa, somos nós.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009