sexta-feira, 3 de julho de 2009

Serenar



Cair lentamente.
Cair o orgulho, as máscaras, as desilusões, as tristezas...aquilo que não nos serve mais.
Gotejar lentamente sobre nossos quereres e, principalmente, sobre os nossos não quereres. Silenciosamente, tal qual o orvalho da noite.
Sereno tem a ver com o céu!
Serenar é o derramar lento do leite da lua. Sem alarde ou alvoroço...
Mas que fertiliza os campos e amolece os terrões endurecidos, como diz o Salmista. (Salmos 65)
É livrarmos da energia avassaladora da ira. É saber calar por amor, aceitação e compreensão dos desígnios divinos; compreensão e aceitação de nós mesmos, dos nossos erros, das nossas escolhas e alheias.
Mas isso, de modo algum quer dizer passividade ou falta de ação. Pelo contrário.
Serenar é agir centrado!
É falarmos por meio de mãos que afagam e olhares que acolhem, é caminhar no escuro como se dia fosse, guiados por uma força muito maior que nós, mas que está em nós.
Sereno é quem já foi tempestade um dia. Destruiu com as próprias mãos o que plantou e compreende que a cólera produz grandes feitos, sem dúvida, mas que o agir sereno, produz frutos, se não na mesma proporção, até maiores! E de maior qualidade.
São frutos colhidos no tempo certo, doces, não amadurecidos à força.
O sereno trabalha secretamente na solidão da noite. Lava os telhados diariamente para que as cinzas negras não se acumulem. Lava as folhagens da poluição, deixa que seus poros transpirem, vivam. Livra a terra da secura extrema e enche a noite com um frescor todo especial, capaz de nos fazer esquecer o sufocante calor diurno.
Por meio desse ar renovado deslizam os aromas das flores tímidas e sensíveis que só se mostram na escuridão. Deslizam abraços e suspiros de amor. Dormem-se sonos revitalizantes e tranquilos...
Sereno é o ser lunar, meigo e compassivo. É o lado mãe da vida que acalenta e nutre sem anunciar-se, mas que nos dá suporte para que aguentemos o calor das lutas diárias.
O sereno faz com que a boa semente, a melhor semente, aquela que escolhemos calmamente para nós, brote calmamente no útero da terra. Que de outro modo seria carregada pela força tempestuosa das grandes chuvas, por melhor que ela fosse. Ou melhor que fosse nossa intenção.