quarta-feira, 23 de abril de 2014

Liberdade de Expressão e Direitos Humanos


Tenho visto muitas defesas da jornalista do SBT Rachel Sheherazade. Sim, foi uma luta intensa e jamais devemos permitir perder o direito à Liberdade de Expressão. Contudo, há direitos e direitos. E é bom esclarecer que o tal direito de expressão, está contido dentro de um muito maior: o Direitos Humanos. Quero dizer: o direito de expressão acaba onde começa o direito à vida ou o direito de ser julgado por pessoas capacidades e escolhidas para isso. A liberdade de expressão não é absoluta e não pode ser usada para justificar crimes, ou apologia à violência e violações de direitos humanos.
Para os que se dizem cristãos há uma passagem, interessantíssima no novo testamento, quando vários religiosos, valendo-se da lei mosaica, estavam prontos a fazerem justiça com as próprias mãos e apedrejarem uma mulher pega em adultério. O final é conhecido de todos, mas o que me chama à atenção são as palavras de Jesus : “Eu tampouco te condeno”. Depois temos o episódio da crucifixão, no qual o mesmo Jesus tem ao seu lado um ladrão. Histórias a parte, será que os ladrões e pecadores daquela época eram diferentes de hoje. Crimes e atrocidades são tão antigos quando a existência da humanidade.
Se não houvesse leis rígidas que defendessem os Direitos Humanos, o nazismo seria permitido, afinal haveria a liberdade de cada qual expressar-se livremente, ou seja: de alguns defenderem a ideia da supremacia da raça ariana, ou de julgar negros raças inferiores, judeus culpados por todos os males do mundo, homossexuais serem culpados pelo surgimento da Aids e por aí vai. Afinal, cada qual é livre para pensar como quiser. Não é? Não, não é! A liberdade de expressão acaba quando começa o respeito pela vida do próximo, seja esse próximo da raça for, da que facção criminosa que for,  e das atrocidades que tiver cometido.
Claro que temos direito a possuir bens, na maioria das vezes à custa de muito trabalho e dá uma puta raiva quando vemos o fruto de nosso trabalho serem surrupiados. Isso sem falar de crimes horrorosos, cujas perdas são irreparáveis. Mas convém sempre lembrar que há leis maiores e que estas, fogem ao nosso poder.
Humildade. Perdão. Domínio da raiva e seguir em frente, é isso nos cabe.
No último Big Brother teve uma frase infeliz de uma das participantes que, em nome da liberdade de expressão, disse que todos os soropositivos deveriam ser mortos porque ficam dando despesas ao Estado. Também temos visto pessoas que, diante de tanta violência, têm defendido a volta do regime militar. Convêm estudar um pouquinho o número de mortos e desaparecidos neste período. E para aqueles que defendem a liberdade de expressão, vou logo avisando: essa foi a primeira  ser suprimida durante tal período.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013


"No meio do inverno, eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível".
Albert Camus

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ovos de tartaruga



Às vezes temos que enterrar o coração,do mesmo modo que as tartarugas fazem com seus ovos.
Deixá-lo bem acolhido no interior da terra.
É que nesses momentos de completa quietude e solidão, mãos invisíveis trabalham sem cessar.
Num esforço imenso de limpar, curar, proteger e cuidar...
Coração é algo delicado e mimoso, tal qual os ovos.
Possuem uma estrutura frágil.
E guardam toda uma vida em seu interior.
Passa-se um tempo, dois ou três...eles ficam lá quietinhos.
Passam-se chuvas torrenciais, que lavam a terra.
Que assustam e oprimem.
Em outros momentos, só o silêncio e a escuridão.
Nos dias felizes de sol, nos sentimos aquecido e cheios de esperança.
Mas ainda não é hora de sair para  a vida.
É só uma alegriazinha de verão.
Sabe-se lá quantos invernos e chuvas fortes ainda teremos que passar?
(Enquanto isso as mãos invisíveis trabalham sem parar)
Retiram gorduras acumuladas, veias entupidas, nervos necrosados...
Tecem em meio à chuva e ao sol, um coração novo.
Coração alegre. Leve e manso.
Com aquela paciência típica das tartarugas: resistente, persistente, sábia e protetora.
E quando menos se espera temos um coração novinho em folha.
Há sabedoria demais na espera e no silêncio.

Do não manifesto


Gosto do gosto da promessa.
Do que poderia ter sido.
Porém não "saiu do papel".
Não se manifestou sob o sol.
Não desabrochou.
Não, não sou a favor do aborto.
De nenhuma forma de morte.
É que creio na existência do não palpável.
Do que não precisou ser materializado para ter existido.
Creio que aquilo que passou pela mente, e também pelo coração,
Existiu de alguma forma.
Em outra dimensão que não nessa. Em outro espaço, talvez outro tempo...
Da mesma forma que os sonhos que, de tão reais, ficam impregnados em nossas narinas, ouvidos, na pulsação e no compasso do nosso respirar.
Há desejos tão reais, que se tornam verdadeiros 'monumentos' internos. E, se de fora ninguém vê, de dentro não há dúvida de que existam!
Há vida demais em projetos que não chegaram a ser concretizados quanto em ódios sem explicação, problemas imaginários, fantasmas mentais e crenças que ninguém nunca viu.
De todos os sentidos, o mais enganoso é a  visão.
De todas as realidades, a mais real é a que não se vê.
Mas  a se sente, a que se pressente nas entrelinhas. Nas dobras do tempo.
No mínimo espaço de tempo de um piscar de olhos.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Água



Filha de Oxum, de Fevereiro, Pisciana
Sou filha das Águas
Águas ensolaradas, banhadas pelo Rei Sol
Águas mornas, calmas, serenas
Eu canto para a cura
Canto para a transparência
A limpeza, a sanidade
Canto pelo burburinho constante de uma pequena queda
Pelos respingos suaves que não agridem,
Toques de alegria
Ou a água morna na bacia
Onde pés descansam
Cheiro de alecrim, malva, um punhado de sal
A água da panela que cozinha o alimento
E o faz prosperar
Água de cheiro, perfume que espalha
Acalenta e aconchega
Como colo, como cheiro de mãe.
Mãe Lua, mãe Oxum.
Nunca me agradou ser tempestade
Mas para quem apenas é não há escolha
Faz o que tem que ser feito
Ser mulher é disciplina.
Cumprindo as fases, seguindo as regras.
Há uma alegria secreta, porém imensa, neste lado esquerdo da vida.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Oferendas ao nada



"E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, 'oferendas' ao nada?

Quantas pessoas poderíamos ter tirado 'para dançar' na vida e não o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada? Sacrifício ao deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado e assim por diante." 
"A alma imoral", Nilton Bonder

terça-feira, 18 de setembro de 2012

No compasso


Pessoas felizes não se rotulam ou se limitam.
Têm sonhos e não idéias fixas.
Não são vítimas nem mártires.
Não caminham, dançam!
Observam e acompanham com serenidade a mudança dos acordes.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Simples como a paz


Desejo a paz,
a minha paz.
A paz em meus relacionamentos,
em meus caminhos
na minha cama
na minha conta
no meu corpo.
A paz nos meus  dias,
na minha bolsa
a paz dos meus bichos.
o olhar no espelho e ver as rugas em paz.
os cabelos brancos em paz,
a memória cada dia mais lenta em paz.
Desejo apenas isto:
uma vida imersa num oceano de paz.
E eu creio que isso seja possível.
E se não for, agora o é, pela força do meu querer.

sábado, 28 de julho de 2012

O poço


O dia era calmo, quieto, manso.
Aconchegante como um camelo em seu corpo de animal comprido e sereno.
Era amarelo e azul infinitos, como céu e terra que não conhecem muros.
Imensidão de luz, profusão de vida latente
A beleza tem um tal poder, uma majestade que cala!Que se anuncia sem se anunciar.

Intuitivamente segui até o poço.
Bebi do perdão que há muito tempo me esperava.
Senti uma quentura escorrendo sob a pele.
Mãos trêmulas e palavras desajeitadas.

Viver tem desses mistérios.
Quando achamos que estamos vivos, não estamos.
E quando achamos q ela se foi, estamos plenos.
Por isso creio em Deus.
Porque há sempre algo que foge ao nosso controle.
A magia da vida é o inesperado.
É o que nos confunde e atordoa.
Põe um sorriso discreto em nossos lábios
E um brilho raro nos olhos.

Guímel


Eu camelo.

OU

Eu, camelo?

A escolha é minha!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Gatos


Há gatos de armários
Gatos de garagens
De jardins ensolarados
Cadeiras nas varandas
Carros abandonados
Muros banhados de luar
Telhados esburacados

Que habitam nos corações solitários
Moradores de lugares desertos, porém quentes e acolhedores
Eles pressentem a vida
Onde o mundo acha que ela não existe
Naqueles que não contam
Mais nas estatísticas dos viventes normais

Sabem das coisas misteriosas
Que, em si mesmas, não têm mistério algum
Apenas sabem porque veem
Enxergam para além do senso comum
Ou quem nunca reparou no tamanho dos seus olhos?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ao alcance da boca


Não.
Nada de palavras.
Elas cansam os meus olhos.
Fartam meu coração de vazios.
Já não me caibo mais de vogais e consoantes.
Quero o murmúrio,
O ronronar sem sentido,
O cantarolar repetitivo de uma melodia.
Quero te calar as teclas.
Fazer soar seus lábios.
Quero sentir seu ritmo.
O pulsar do seu punho segurando o meu.
Te quero ao alcance
Do ouvido,
Da boca.
Sempre à disposição,
Disso não abro mão.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Para sempre


É certo que nada dura para sempre.
Será que é certo mesmo?
As coisas se transformam,
Porém não deixam de ser o que são
Na essência,
Se essência for,
Permanecem inalteradas.
A alma será sempre a Alma.
O amor, sempre Amor.
Às vezes doendo menos,
Às vezes rasgando o peito
As coisas duram para sempre sim!
Coisas que deixaram a fase de 'coisas'
Para tornarem-se seres,
Entes vivos
Mesmo que mortos
Entre os vivos
Jamais deixarão de existir.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Incenso


Agradou-Lhe moer.
Agradou moer-me.
Até que nada restasse
Que não fosse o aroma
Da lembrança
Entranhado em cada cadinho da minha alma.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O que é o amor?



O que é o amor, onde vai dar,
Parece não ter fim
Uma canção cheirando a mar,
Que bate forte em mim
O que me dá meu coração
Que eu canto prá não chorar
O que é o amor, onde vai dar
Porque me deixa assim
O que é o amor, onde vai dar,
Luar perdido em mim ...
                   (Danilo Caymmi)

sábado, 6 de agosto de 2011

Se pudesse parar o tempo...


Eu diria que sim,
Amo de verdade!
Que sou livre,
É certo,
Mas desejaria viver amarrada a você
Sim, diria que sim,
Eu espero!
O tempo que for preciso,
Eu espero!
Faria cena, não o deixaria solto
Utilizaria os recursos mais vis,
mas não o deixaria sair de perto de mim
Se eu pudesse parar o tempo você estaria hoje aqui
Quem sabe discutindo onde iríamos tomar café
Ou que música colocar
Mas você estaria aqui.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um ponto...


Um ponto...
A agulha avança,
Pede outro
E mais outro...
A linha pede outra linha
Uma cor chama a outra
Um beijo quer um abraço
A cama pede um corpo,
Um corpo clama por outro.
Inesgotáveis, sempre!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Esperança

Para mim é muito difícil distinguir a diferença entre esperança e ilusão.
Me esbarro na  tênue linha que separa esses dois sentimentos.
Receio que minhas esperanças sejam apenas ilusões.
(Se é que há diferença entre uma coisa e outra)
Quando vejo aparece um terceiro elemento, a fé:
"A certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem".
Será que aquilo que chamamos 'ilusão' não é uma forma de esperança?
Ou  ilusão é quando nos negamos a ver a realidade?
E  a esperança  quando vislumbramos o futuro?
Mas, quando vemos a sabemos das dificuldades da realidade e,
mesmo assim, rejeitamos a abandonar a esperança?
Isso é fé!


quinta-feira, 24 de março de 2011

Sábado...


Uma lufada de ar quente me invadiu o peito
depois de uma noite de muita chuva
o dia estava quente e nublado
É verão, não tenho dúvida!

A vida pulsa em todas as direções.
meus olhos de enchem de água
como o céu de Março
não sei como sai tanta água sem se esgotar
Talvez elas sirvam para alguma coisa
Não sei
lavar, lavar, lavar..

Até ficar pronta!
Afinal,
O noivo de sua alma deseja entrar
Mas ele não vem enquanto o trabalho não estiver adiantado
Ou acabado?

A casa pronta
A janela aberta
O vaso com flores...

A chuva não cede.

domingo, 20 de março de 2011

Não preciso de inimigos


A minha luta comigo mesmo me basta.
Bato, rebato, escapo, me escondo, enfrento
e todas as marcas continuam em mim
Sonho com dias ensolarados
lembro o chocoalhar do trem
O vento passando lá fora, pelas janelas
Casas, campos, a estação da Lapa
Todos os cheiros estão em mim.
Abra as janelas do quarto e olho os eucaliptos
Iguais, completamente iguais
Clones dos meus dias.

domingo, 13 de março de 2011

"...e correr atrás do vento" *


Na verdade viver cansa demais.
E não viver
Também cansa!

*Eclesiastes

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Varal

O arame estendido
Estaca a estaca
Fincadas no chão lamacento
As roupas enxarcadas
Pesam tanto
Vidas de cabeça para baixo
Fronhas pelo avesso
Presas apenas por pequenos objetos
os dias passam
Há chuvas que não dão trégua
Sereno de noite
Neblina de dia
Assim as roupas-vidas seguem
cada dia cheirando mais mal...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Viver é teimar

Afirmar todo dia que se quer viver,
Viver mais e melhor.
Bater os pés,
Fincar as raízes na existência
Com obstinada coragem
E o máximo de teimosia!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Sutra do coração"

"Vazio não é mais que forma.
Forma não é mais que vazio"
Tudo é simples se compreendemos que tudo não passa de ilusão.
Aquilo que nos parece ruim é apenas a mão do Universo nos empurrando para frente.
Sem mágoas ou ressentimentos.
Coração limpo. Vazio. Cheio de paz.
Somos rosas e espinhos.
Tudo ao mesmo tempo.
Nada.

sábado, 27 de março de 2010

Quase deuses...

Da chuva não sei muita coisa...
Sei que escorre pela face
Tem sabor da água do mar, mas
que nasce de sentimentos armazenados há tempos
dentro da terra.
Dizem que limpa, que lava e ainda fertiliza!
Fertiliza a alma do que é humano
Nos faz iguais.
Próximos demais.
A minha lágrima é a sua lágrima!
A  minha dor é a sua dor,
e não há maior ou menor!
Tudo é cansaço e fatiga sobre o sol que insiste em
bater todos os dias dentro do nosso peito-céu-aberto
Ainda assim é bom saber que vivemos,
que continuamos a chorar
que continuamos humanos e tão iguais,
no simples ato de desaguar.
de fazer chover sem nem utilizar as mãos.!

terça-feira, 3 de novembro de 2009



Ansiedade:
O resultado entre o fazer e o não fazer.
Agravamento:
Procrastinação.
Antídoto:
Ação.

"Pensar é estar doente dos olhos", diz sabiamente Fernando Pessoa.
Pensar, pensar e pensar! Será que sabemos fazer outra coisa?
Será que isso tem a ver com a pandemia de ansiedade que assola o trânsito e os consultórios psiquiátricos?
E se pensássemos menos?
Víssemos mais o céu azul, a cidade, as pessoas...?
Cheirássemos o ar, a nossa pele, o nosso próximo...?
Tocássemos mais em nós mesmos, acariciasse o chão, ou até rolásssemos na terra como fazem as crianças e os cachorros?
Lambesse o suor que escorre pelo rosto, arrumar os armários...
Correr, escrever, trabalhar, agir!
Não importa o que façamos.
A ação é como um círculo de fogo mágico a nossa volta, fazendo com que o demônio da ansiedade fique longe. Bem longe!

domingo, 11 de outubro de 2009

Elas sabem



Às vezes gosto de brincar que sou árvore
só para ser tocada pelo vento
Plantar meus pés no chão
sentir crescer os musgos, as pequenas plantas e flores nos meus tornozelos
Estender meus braços aos céus
e poder ouvir a música das estrelas
Eu acho que as árvores podem tudo
elas conhecem o segredo de como crescer na escuridão da noite
Eu não!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"Na metamorfose"...


Amo esse nome do blog de uma amiga muito amada!
Ele diz tudo: Não nascemos prontos! Nunca estamos prontos.
Mas infelizmente pensamos que sim!

Não nascemos filhos ou filhas. Pais ou mães. Amigos ou esposas.
Leva-se muito tempo de observação, meditação, tolerância, amor para que formemos esses papéis em nós.
Não que o conhecimento já não esteja presente, porque sempre está.Todas as respostas, questões, aprendizados, moram em nós. Como se houvesse um programa de computador já instalado, porém que não é acionado, a menos que o ativemos. Ou seja, depende do nosso querer.
 O problemas também, muitas vezes  não é nem querer, é reparar que existe essa necessidade. Prestar atenção no outro. Olhar com cuidado suas necessidades, dores, aflições...
  Ficamos tão atentos às infinitas vozes externas sobre nós mesmos, nossos pais, amigos, irmãos, que nem sequer olhamos para quem eles são, ou para quem, de fato, somos.
  Só quando calamos o exterior é que o interior pode se manifestar plenamente. Ele é muito educado e não fala enquanto há outros falando.
   E para calar não precisamos nos isolar do mundo. Tornar-se um eremita ou viver afastado daqueles que amamos ou do mundo real.
   Todas as religiões oferecem as suas práticas de comunhão com o divino, se ficar em silêncio e ouvir, todas as respostas virão.Independente de você acreditar que venham de um deus ou de você mesmo. Elas virão!
  Levei minha vida inteira sabendo que minha mãe não sabia ser mãe. Justificava esse fato a sua pouca idade, 17 anos quando me deu à luz. Não a culpava diretamente, mas de alguma forma achava que essa deveria ser uma qualidade intrínseca a toda mulher. É estranho como não pensamos isso dos homens ou dos filhos.
 Só as mães têm que nascer sabendo serem mães!!!
Hoje, aos 37 anos, descubro que só agora estou aprendendo a ser filha.
Que ser filha, ou filho, não é dizer ‘eu te amo’, visitar aos domingos para almoçar ou nas férias. Ligar toda semana e nos dias dos pais.
   Ser filho é acompanhar as dores e angústias. Saber das dificuldades financeiras, profissionais, de saúde, sentimentais até! Pois pai e mãe também têm problemas e possuem sexo, sabia?
 Infinitamente mais cômodo pensar que não.
 Mas não basta saber, é preciso ajudar, colaborar no que for necessário. É se desdobrar para que o dinheiro dê para si mesmo e para os pais se isso for preciso, é tolerar os limites, as fraquezas morais, os fracassos pessoais, espirituais sem julgamentos ou condenação. É ensinar em suas dificuldades, doar tempo, paciência, resolver até questões que para nós nos parecem tão simples, mas que na cabecinha deles nem sempre é. Não é apontar o dedo e dizer: ”Ele plantou, ele que colha”. Realmente julgar não nos cabe, isso não nos é permitido nesta vida. Amar sim.
   Quantas vezes nossos pais nos acolheram em nossas fraquezas e deslizes?
 Mas não devemos acolhê-los apenas como uma forma de retribuição ou de pagamento. E sim como uma ato de amor, afeto incondicional .
  Pegamos o pai ou mãe, o irmão, a esposa ou o amigo, tal qual um filho doente ou drogado (que é a mesma coisa) e o acudimos. Não importam os papéis, às vezes eles se invertem mesmo. Mas o amor é o mesmo.
  Repenso e repasso todos os meus papéis. Sei que o que mostro ao mundo é infinitamente medíocre perto da grandeza que trago na alma. É como dizia Niestsche : "A coisa mais difícil neste mundo é nos tornarmos quem realmente somos”. É tirar de dentro de nós os verdadeiros filhos e filhas, pais e mães, irmãos e amigos.
   Não morrermos na intenção de sê-lo.
   Mas trabalharmos neste processo sem fim de tornar-se.
   Nada na vida é pronto. Os substantivos não existem. Uma árvore não existe, ela é um processo como nós. 
Osho diz: "só os verbos são reais, não somos nada, estamos nos tornando sempre".
Uma única certeza: Na metamorfose, Dani, esse é o nosso estado permanente.
  


sábado, 15 de agosto de 2009

Be happy








Eu queria poder dizer das dores.
Das minhas e das alheias.
Talvez 'dizer' não fosse o termo correto,
Queria poder 'estancar' todas as dores!
Mas aí ficariam represadas..
Não, não seria bom!
Um dia poderiam estourar...
O melhor seria incinerar, transformar em adubo.
Fertilizante para uma vida plena.
Maldita tradição essa, tão enraizada em nós, na qual sentimos o sádico prazer em nos flagelar continuamente! Como se para nós nunca chegasse a redenção! A absolvição!
Queria dizer que somos todos tortos, 'gauches' a caminhar pelas sombras da vida. A simples comprensão disso nos livra de apontar o dedo a quem quer que seja!
E que a dor não é 'privilégio' de ninguém, ela está no mundo e disponível a todos, assim como o sol: não há privilegiados, ele vem sobre todos nós
Mas o que fazer quando ela sufoca, aprisiona, paralisa?Escrever, escrever, escrever...? Às vezes seria bom enfiar as mãos na terra, plantar, sentir a humidade gostosa e acolhedora dessa amiga tão querida? Fazer um pão, 'carinhar' a massa? Jogar bola? Tocar um instrumento?
"O que te faz feliz?", é o slogan do Pão de Açúcar, deveria ser o nosso. A nossa pergunta diária.
O que me faz feliz? O que te faz feliz?
Muitas vezes a tristeza é tamanha que é até difícil identificar. É melhor indo aos poucos...sentar ao lado de um amigo e colocar o papo em dia, assistir a um filme , alisar um animalzinho... e a vida vai voltando...
Como os homens, ela sempre volta, só que ao contrário deles, ela volta melhor: amadurecida.
O que sei é que não podemos nos desesperar. Nunca! Pois o mundo dá voltas e umas vezes estamos de cabeças para baixo, literalmente, e em outras estamos de pé!
(Quisera eu ter o poder de pensar sobre isso nos meus momentos de abandono de mim mesma)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Serenar



Cair lentamente.
Cair o orgulho, as máscaras, as desilusões, as tristezas...aquilo que não nos serve mais.
Gotejar lentamente sobre nossos quereres e, principalmente, sobre os nossos não quereres. Silenciosamente, tal qual o orvalho da noite.
Sereno tem a ver com o céu!
Serenar é o derramar lento do leite da lua. Sem alarde ou alvoroço...
Mas que fertiliza os campos e amolece os terrões endurecidos, como diz o Salmista. (Salmos 65)
É livrarmos da energia avassaladora da ira. É saber calar por amor, aceitação e compreensão dos desígnios divinos; compreensão e aceitação de nós mesmos, dos nossos erros, das nossas escolhas e alheias.
Mas isso, de modo algum quer dizer passividade ou falta de ação. Pelo contrário.
Serenar é agir centrado!
É falarmos por meio de mãos que afagam e olhares que acolhem, é caminhar no escuro como se dia fosse, guiados por uma força muito maior que nós, mas que está em nós.
Sereno é quem já foi tempestade um dia. Destruiu com as próprias mãos o que plantou e compreende que a cólera produz grandes feitos, sem dúvida, mas que o agir sereno, produz frutos, se não na mesma proporção, até maiores! E de maior qualidade.
São frutos colhidos no tempo certo, doces, não amadurecidos à força.
O sereno trabalha secretamente na solidão da noite. Lava os telhados diariamente para que as cinzas negras não se acumulem. Lava as folhagens da poluição, deixa que seus poros transpirem, vivam. Livra a terra da secura extrema e enche a noite com um frescor todo especial, capaz de nos fazer esquecer o sufocante calor diurno.
Por meio desse ar renovado deslizam os aromas das flores tímidas e sensíveis que só se mostram na escuridão. Deslizam abraços e suspiros de amor. Dormem-se sonos revitalizantes e tranquilos...
Sereno é o ser lunar, meigo e compassivo. É o lado mãe da vida que acalenta e nutre sem anunciar-se, mas que nos dá suporte para que aguentemos o calor das lutas diárias.
O sereno faz com que a boa semente, a melhor semente, aquela que escolhemos calmamente para nós, brote calmamente no útero da terra. Que de outro modo seria carregada pela força tempestuosa das grandes chuvas, por melhor que ela fosse. Ou melhor que fosse nossa intenção.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Compatilhar transformador



Há tempos que tento conhecer um pouco sobre a Kabbalah. Não porque é moda. Porque sou mística mesmo e todos os assuntos relacionados à espiritualidade me interessam.
Já ouvi de tudo! É incrível como as pessoas gostam de cuidar da vida alheia, do que gostamos, fazemos ou deixamos de fazer. Como se não fôssemos livres para decidir, escolher o caminho, ou caminhos, que desejamos seguir.
Triste isso!
Na última semana me perguntaram: "De que serve estudar isso?" ( a Kabbalah).
Bem, serve tanto quanto qualquer prática que nos conecte conosco mesmo, com alguma Força Superior, ou no mínimo, que nos faça viver melhor com os nossos semelhantes, só aí já temos uma grande utilidade. Pelo menos eu penso, mas cada qual pense como quiser.
Mas, como disse Jesus: "Ama ao teu próximo como a ti mesmo! Neste ensinamento encerra-se todos os ensinamentos de todos os profetas" (livre tradução).
Meu 'dever de casa' esta semana para o curso de Kabbalah era desenvolver a arte de Compartilhar. De tudo o que se diz sobre essa filosofia mística judaica, esse é o ponto principal, a chave!
Dizem algumas correntes judaicas que enquanto as pessoas não aprenderem a compartilhar de fato, todos os templos que forem construídos em Israel serão destruídos. Pois as pessoas não sabem o real valor desse ato, compartilhando apenas das sobras. Eles acreditam que o conhecido Muro Das Lamentações só está de pé porque foi o único pedaço do templo construído com doações sinceras.
Assim como na memória de nossos filhos só ficarão gravados aqueles momentos em que compartilhamos com eles o nosso melhor . Aquelas horas de total e generosa entrega . Entrega do que temos de melhor naquele momento. Quer seja o nosso tempo, nosso trabalho, dinheiro, alegria, amizade ou até mesmo algumas lágrimas, entre tantas outras coisas.
Do mesmo modo, é o que sobrará dos casamentos ou relacionamentos: mãos dadas, sentidas em cada movimento: de segurança, de medo, de confiança...; olhos que se enxergam verdadeiramente, almas que se leem em cada gesto. Que compartilham de um mesmo ideal: fazer mais pelo outro, ainda que isso represente sacrifício: ouvir quando o outro precisa falar e se está morto de cansaço, passar noites acordadas se o outro necessitar de nossos cuidados, não comprar aquele carro maravilhoso se é mais importante para o outro fazer um curso que ele necessite muito. Os exemplos são inúmeros. Cada um sabe o que pode abrir mão para compartilhar com o outro a alegria de estarem juntos.
Compartilhar é sair da zona de conforto.
E como é difícil compreender isso, quanto mais fazer!
Não é estar próximo fisicamente. Nem perguntar como o outro está pelo msn, telefone. Enquanto pensamos nas milhares de outras coisas que se têm que fazer ou poderia estar fazendo.
Por isso há tanta superficialidade nos relacionamentos.
Quem compartilha direciona sua energia a um só foco. Claro que podemos ter vários focos: o emprego, ou empregos, cada um dos filhos, a mãe, o cachorro, uma instituição que assistimos...
O importante é estar totalmente presente e centrado em cada situação.
É o caso de estar casado e ser consumido pela solidão.
De ficarmos horas no msn e irmos dormir vazios e carentes.
Ai o zazén! Lembrei-me do zazén!
Atenção Plena!!
Apenas sentar-se!
Apenas sentir!
Apenas ouvir!
Compartilhar é dividir-se plenamente com o outro. É não pulverizar-se. É sentir-se e sentir a necessidade alheia. Mas isso só é possível se sairmos de nós mesmos.
A solidão é o que nos leva a inúmeros relacionamentos vazios, a consumir mais que o necessário. Em espanhol a definição é perfeitamente clara: "con su mismo", consigo mesmo. Com mais ninguém. Sozinho!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descanso



Não importa se faz um dia, um mês ou uma vida.
Importa a impressão da sua presença:
chuva calma serenando meus tormentos.
Arrancando levemente o passado e o futuro


Quem precisa de passado ou de um futuro
quando se tem a eternidade do presente?
Dizem que Eros não habita onde não há Beleza!
E a Beleza mora em ti.
Vulcão sereno
Praia de águas profundas...


Meu coração encontrou paz na sua confusão.


Sei que em ti habita chuvas de meteoros e tempestades no vácuo
Que não é tranquilo como aparenta!
Mas admiro sua solidão,
seu caminhar só,
fingindo um equilíbrio que não existe,
nunca existirá!



segunda-feira, 9 de março de 2009

Lego



Cansei de ser 1!
Quero ser 2.
Um amigo me disse que essa história de ser 2 é bobagem. Que ele já nasceu completo. Inteiro!
Morri de inveja...
Mas não sei ser 1.
Olho no espelho e falta metade. Sento na mesa e falta!
Falta outro prato, outra cadeira ocupada, outro copo cheio...
Sobra salada, suco, macarrão...
Uma das minhas mãos não sabe o que fazer na rua.
Uma é bem resolvida, segura a bolsa.
A outra se esconde no bolso do jeans.
Convivo bem comigo mesma. Não brigo, não dou peti.
Fico numa falsa paz. Afinal é muito fácil viver só! Difícil é viver com!
Ser inteiro todo mundo é. O problema é não gostar de ser inteiro, é gostar de ser misturado.
Me sinto como uma peça de lego na caixa, esperando que alguma feliz criança me tire da minha inteireza.
Que me faça dar as mãos, os pés, o umbigo a outras peças...
Que faça combinações diferentes de mim mesma.
Que me faça ter certeza de que sou eu mesma, completa.
Mas que posso ser carro, casa , flor ou avião quando me misturo.
Só tenho real noção de mim no meio da brincadeira.
Trancada na minha caixa, solta entre as outras peças, descanso em paz.
Porém não posso chamar essa paz de plenitude, de felicidade.
Isso só conheço com o outro.
Com outro prato na mesa, no sofá apertado, na disputa pela pia do banheiro de manhã...


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Palimpsestos


Às vezes sou ingénua...Quase sempre, na verdade!
É o que se pode esperar de uma pessoa que acredita em milagres.
Que vê anjos em tudo e, o pior: em todos...
Às vezes, tanta ingenuidade, me mete em encrencas. Me faz doar mais do que devia, ou poderia. Doar meu tempo, meu coração, minha energia, meu sangue, minha vida!
Confesso que não sei ser pela metade.
Me pareço muito com uma gata que tínhamos, a Marie. Ela se envolvia 100% em tudo. Desde os carinhos às maiores confusões.
Ela viveu muito. E se isso não for milagre nada mais será! Pois perdi a conta do número de vezes em que ela apareceu em casa toda estropiada.
Pele e osso seria elogio. Era só osso!
A carne, os pelos... só Deus sabe em que cerca, garras ou dentes teriam ficado.
Testemunhei sua cura por incontáveis vezes. Limpava seus ferimentos, fazia emplastos, lhe dava leite morno e carinho. Acompanhava com assombro, a incrível capacidade da natureza em se autorrestaurar.
A carne se formando, cada dia mais densa, sob a camada do novo e sedoso pelo novo.
Os ligamentos se reconstituindo, até ela conseguir andar vagarosamente e, num instante seguinte, já estar pronta para pulos e saltos formidáveis.
É verdade que nunca consegui impedir que algumas cicatrizes ficassem.
Não compreendia que eram as marcas das batalhas, e que, no futuro, teria as minhas próprias. Medalhas de honra ao mérito, condecorações! Ela tinha várias.
Uma verdadeira veterana de guerra!
Porém, me espantava com que rapidez tornava-se macia de novo, agradável ao toque.
E era tão gostosa, tal qual o gatinho-bebê, que um dia trouxe para casa na mochila da Universidade.
Sempre a terei como exemplo, de que nada serve tentar nos preservar das batalhas. Melhor entrar com tudo, mergulhar de cabeça. Sem medo de perder o que quer que seja. Inclusive a cabeça!
Como em um palimpsesto, ou na restauração de um móvel, o artista vai trabalhando a peça. Às vezes se faz necessário o uso de uma espátula com um martelo para retirar a camada mais grossa de massa, depois lixa, passa um fundo nivelador, lixa de novo...
Processo lento. Várias fases.
Ser humano também é assim. Mas o resultado compensa.
Prefiro o restaurado ao novo.
E que palavra complexa e bela, Restaurar (Dic. Houais): "obter novamente a posse ou o domínio de alguma coisa perdida". É engraçado observar que em meio a tanta pressão para que se adquiram novos produtos, também se fale tanto em restaurar. Restaurar a dignidade, a autoestima, o valor do ser humano...
Ela também aparece como sinônimo de "Recuperar", a saúde, a alegria, as posses, o esplendor...
É quase um voltar ao estado primitivo, original. Mas vai muito além disso.
Um mural de palimpsesto jamais será um tablado de madeira crua e sem vida, ou um simples pergaminho em branco. Ali estão as marcas de artistas, viajantes, curiosos, crianças arteiras...todos que trazem em si o desejo de se autoafirmarem no mundo.
Aí, vem alguém e tenta jogar uma tinta por cima e fazer a seu modo, depois outro, e mais outro e no final, temos um Mundo, com todas as suas cores, personalidades, individualidades, num único ser, ou objeto.
Como um móvel restaurado, uma casa, ou o próprio ser-humano...ele nunca será totalmente livre das energias que o imantaram.
Melhor assim!
E ganhará o toque de um outro alguém, que não sabe bem por que se encantou com tal objeto. E de tanto amá-lo e carinhá-lo no seu processo de reforma, lhe trará um novo frescor. Sem que para isso, ele deixe suas histórias, suas marcas ...suas cicatrizes.
E quem poderá dizer que não é novo? Um novo velho! Um novo cheio de histórias pra contar. Ou melhor, para se descobrir.
Há quem não goste de nada que já foi 'usado'. Que já pertenceu a outra pessoa.
Esquecem-se de que todos nós já somos de segunda mão, terceira, quarta... Não há nada novo sob o sol. Trazemos vestígios e marcas de relacionamentos antigos, dos pais, dos avós, das cidades e casas onde vivemos...
E, esquecemos que, felizmente, também estamos sendo restaurados o tempo todo.
(É que às vezes o Marceneiro exagera um pouquinho e nos deixa só nos ossos. Lixa tanto, que sobra bem pouco pra contar história...ou sobra muito? )
Não sei! Sei que dos ossos, a Marie sempre se refazia. Macia, faceira e a cada nova batalha mais charmosa.
Quem a conheceu sabe que não exagero. E sabe da falta que ela faz!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pedras







Amo as pedras.
Suas texturas....
Tecidos tão antigos.
Tramas tão fechadas,
confeccionadas por milhares de mãos: verões, invernos, ventos, chuvas, granizos, luares...
Algumas são rústicas, lascadas, verdadeiras armas.
outras, porém, macias, lisas, redondas...que se acomodam perfeitamente nas palmas das mãos, sobre os olhos, entre os seios no chakra do coração!


Pedras verdes e rosas abrem o canal
para o amor desimpedido, incondicional.
Quebranta a dureza da alma.
O antídoto: pedra para curar um coração de pedra!


Pedras quentes sob ou sobre as costas,
terapia tão antiga quanto a humanidade que,
inconscientemente, praticava todos os dias no final da tarde
para despedir-me do sol e dar boas vindas à lua.
Esparramada sobre a imensa pedra cujo nome
revela seu formato: Pedra da Cebola.



Enquanto a Gabi cantarolava, correndo:
"Pedra da cebola, ahh que parque bom!...",
uma canção só nossa como tantas outras.



Não sei se pela sua voz de serenidade
ou pelo acolhimento das velhas pedras,
quentes como colo de avó,
expostas à quentura da vida/do dia.
Acredito que ambos.
Saía de lá refeita...
com menos pedras pelo caminho...

Há quem não goste das pedras.
Há quem delas reclame e se desvie.
Mas há quem faz delas sua cura,
seu caminho favorito.
Este é o meu caso.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Insônia

O barulho do vento na vidraça incomoda...
E o travesseiro que parece nunca encontrar a posição correta...
Cobertores que escorregam de um lado pro outro.
A cabeça pesa ante a rigidez da coluna...
e podemos ouvir o ranger dos nossos próprios maxilares...
Mesmo assim ficamos. Resistimos.
Por que não levantar e dar um basta na situação?
É que ela é cômoda de certa forma.
A madrugada é fria. O vento que percorre a casa, longe da esfera da cama, carregado de assombrações.
O pijama, curto.
O silêncio e o escuro terríveis, para nossos ouvidos e olhos acostumados a tantos estímulos.
É preferível o inferno de rolar de um lado pro outro da cama, de não relaxar, não sentir prazer no bom e velho descanso, que o suposto inferno do vazio longe do conhecido ninho.
Esquecemos que somos chama. Um dia nos conhecemos, mas nos perdemos de vista.
Contudo, podemos chamar-nos de volta. Podemos aconchegar os nossos ossos, acobertar de liberdade as nossas costas...
Aquecer a alma, aquecer a casa, pois a casa, somos nós.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Pá!






(Para ser lido em voz alta e com as oclusivas bem pronunciadas,rss...)

Gosto que me chamem de "Pá" ou "Pati". Por causa do som. Oclusivo, como diriam os gramáticos. Do mesmo modo que o /b/, o /t/, o /d/, o /k/ e o /g/.
Um céu "plúmbeo", significa que logo explodirá um aguaceiro. Um copo de leite quente, desencadeará um calor ardente...
As palavras evocam os sons que produzem... Como: bunda...peito...beijo...não tenho culpa! Neste caso, a culpa é da língua, que nos obriga a falar de boca cheia.
A pecar de todas as formas.
Por isso gosto de Pá. Uma só explosão! Lábios que se tocam...
Som que se perpetua pelo ar, ecoa no coração...
Pó de perlimpimpim.
O plim da tv. O plaft, pluft dos contos de fadas.
Um pouco de susto, leve e gostoso, a evocar os distraídos.
Do mesmo modo que o badalar dos sinos.
Essas letrinhas tão simples eclodem na boca como uma chuva de pétalas, como bola de goma, pipoca na panela.
Claro que há o 'pá' das metralhadoras e armas, mas este não conta. Pelo menos não aqui! Já há o suficiente dele nos jornais e noticiários.




Lição dos Cravos


Minha mãe não gostava de cravos.
Dizia que eles a faziam lembrar-se de meu avô, que os adorava.
Então, acho que ela deveria gostar, já que amava meu avô. Não deveria ser assim? Tendemos a gostar do que as pessoas que amamos gostam e não gostar do elas não gostam?
Mas minha mãe sempre foi assim...
Idiossincrasias de uma aquariana que nasceu pra contradizer!
Ela gostava das rosas.
Vivi muito pouco com meu avô e o suficiente com minha mãe, para ter ojeriza aos cravos. E isso para mim era extremamente incômodo. Explico.
Desde a primeira vez, aos 16 anos, que ouvi falar em literatura galego-portuguesa fui arrebatada à Península Ibérica e de lá nunca mais saí. Nem da sua cultura, das suas revoluções e tradições.
Talvez coisa de vidas passadas.
Certa vez, por meio de uma sessão de regressão, recordei-me de cenas vividas na Catalunha. Para mim, tão vivas quanto a minha infância em Araraquara. Se é obra de magia ou de literatura não sei! Já que não vejo distinção entre elas! Pois que ambas dão na mesma: são capazes de nos transportar com todas as visões, cheiros e amores a qualquer local do planeta e mais além.
A questão é que não existe tradição ibérica sem cravos! Portugal sem a Revolução dos Cravos, toureiro sem cravo, dançarina andaluza sem cravo. Há cravos ao redor das casas, nas pinturas, nos poemas, nas estampas dos vestidos...
Desconjurava tanta obsessão!
Para mim quem deveriam estar ali eram as rosas, as margaridas, as orquídeas...todas, menos ele, os cravos!
Passados tantos anos finalmente me libertei de minha mãe, assim como de seus preconceitos.
Cada qual já carrega por si mesmo um bom fardo deles, não merecemos os de mais ninguém.
Admirando 4 cravos em uma taça, na mesa de jantar, descubro, atônita, seu esplendor. Na verdade, sua elegância! Parecem aqueles vestidos de gala, justos, que se abrem de repente em suntuosos babados.
E como são cheirosos!!
O tom do seu caule, meio azulado, combina perfeitamente com o vermelho,os tons de rosa, o amarelo ou branco de suas pétalas. Nada nele é exagerado, a não ser sua elegância.
Quantos prazeres deixamos de contemplar ou de viver por conta de preconceitos.
Pensar por mim mesmo, saber o que me agrada ou desagrada, independente das opiniões alheias é a minha grande lição dos cravos. Olé!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Rosas vermelhas


Hoje acordei bonita.
Olhei-me no espelho
e vi que tenho exatamente a "cara ' que deveria ter.
Nem mais nem menos!

Resolvi me presentear com um buquê de rosas.
- Sim, vermelhas, claro!

Porque sinto o sangue pulsar em minhas veias e
acarinho a carne tenra e macia das minhas coxas.

Descobri que as mereço.
Todas as mulheres merecem, afinal.
Mas poucas percebem que
se não nos presentearmos,
se não começar em nós a admiração,
jamais elas,
as rosas,
virão!
De mãos alheias ou não (necessariamente)!

domingo, 30 de novembro de 2008

Sem deixar rastros


Você já parou para admirar aqueles jardins japoneses que são formados apenas por areia e algumas pedras? Então, além da simbologia que há por trás, que personifica a imagem do país: a areia como sendo o Oceano e as pedras, as ilhas que o formam, o que mais chama à atenção é o cuidado em manter a areia sem pegada alguma!

E quem já participou de uma sessão de meditação budista sabe, que após a prática, há todo um ritual de 'desamassar' as almofadas (zafus), guardá-las, deixar o auditório como se tivesse acabado de receber uma bela faxina.

E o banheiro dos mosteiros, a cozinha, o jardim...? Tudo na mais completa ordem!

Será que existe um faxineiro, invisível, e em tempo integral, fazendo todo o trabalho como acontece nos shoppings e hospitais? De forma alguma! Nos mosteiros cada um vai limpando, organizando, purificando os ambientes por onde passa, para que outro não se depare, não tenha que conviver, com a 'sujeira' alheia.

Faz parte da tradição oriental, principalmente dos japoneses, a discrição e o não sobrecarregar ninguém com a sua 'bagunça'.

Contudo, não precisamos ir tão longe buscar exemplos de atitudes como essas. Os temos na própria bíblia, mas é que as pessoas se acostumaram a interpretações prontas, ou as que mais lhes convêm. Pois estão lá:

"Que cada um tome sua cruz e ande!" (Jesus, Lucas 9:23);


"Não devemos ser um peso para ninguém!" (Apóstolo Paulo e Atos, 18:4).



Só os bebes têm o direito de serem carregados e que alguém recolha seus brinquedos espalhados pela casa. Depois disso, só os inválidos.

É difícil para algumas pessoas compreenderem que o ato de tomar um simples copo de água só se encerra quando o copo está lavado, enxuto e, depositado novamente no armário. Da mesma forma com nossos sapatos, roupas, livros ou qualquer objeto de uso pessoal. É a nossa bagunça, o nosso lixo! Deixaremos para que outros façam o serviço, afinal, se faz necessário gerar empregos?

Cada qual que faça o que quer da sua vida, mas acho muito indelicado deixar minhas peças íntimas para que outro as lave, ou minha cama para que outro a arrume.

Acredito que "ser responsável pela sua própria cruz", além de inúmeras interpretações , seja também: seja responsável pelo que você produz- tanto profissionalmente quanto pelo que descarta em forma de lixo- e pelo que consome. Pois essas coisas representam os seus 'rastros', suas 'pegadas' neste mundo.

Parace que o homem sente prazer em deixar sua marca, como símbolo de poder. Como faziam os antigos bárbaros, que deixavam por onde passavam cidades queimadas, mulheres estupradas, plantações destruídas, como exemplos da sua soberania. Talvez hoje sejamos mais discretos. Com excessão da guerras que deixam marcas tão cruéis como as dos antigos bárbaros, mas será que jogar o esgoto onde não se deve, soterrar nascentes, deixar a praia imunda no final do dia ou a casa imprestável para que outro a ponha no lugar, também não sejam formas de mostrar que "dominamos" aquele território, que temos "poder" sobre ele? Será que nos esquecemos que nossos 'herdeiros' seguirão nossos passos?

De modo que sou a favor da filosofia oriental: não deixar rastros! Pois deixaremos como herança aos nossos filhos o terreno limpo, para que eles, como aqueles que desenham sobre os jardins de areia, sejam completamente livres, para criarem suas próprias figuras.