sábado, 28 de julho de 2012

O poço


O dia era calmo, quieto, manso.
Aconchegante como um camelo em seu corpo de animal comprido e sereno.
Era amarelo e azul infinitos, como céu e terra que não conhecem muros.
Imensidão de luz, profusão de vida latente
A beleza tem um tal poder, uma majestade que cala!Que se anuncia sem se anunciar.

Intuitivamente segui até o poço.
Bebi do perdão que há muito tempo me esperava.
Senti uma quentura escorrendo sob a pele.
Mãos trêmulas e palavras desajeitadas.

Viver tem desses mistérios.
Quando achamos que estamos vivos, não estamos.
E quando achamos q ela se foi, estamos plenos.
Por isso creio em Deus.
Porque há sempre algo que foge ao nosso controle.
A magia da vida é o inesperado.
É o que nos confunde e atordoa.
Põe um sorriso discreto em nossos lábios
E um brilho raro nos olhos.

Guímel


Eu camelo.

OU

Eu, camelo?

A escolha é minha!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Gatos


Há gatos de armários
Gatos de garagens
De jardins ensolarados
Cadeiras nas varandas
Carros abandonados
Muros banhados de luar
Telhados esburacados

Que habitam nos corações solitários
Moradores de lugares desertos, porém quentes e acolhedores
Eles pressentem a vida
Onde o mundo acha que ela não existe
Naqueles que não contam
Mais nas estatísticas dos viventes normais

Sabem das coisas misteriosas
Que, em si mesmas, não têm mistério algum
Apenas sabem porque veem
Enxergam para além do senso comum
Ou quem nunca reparou no tamanho dos seus olhos?